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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amor de Marinheiro


Amor de Marinheiro

Se não digo agora que a amo
Não é pelo medo de amar primeiro
É mais pelo medo que chamo
De amor de marinheiro.

Que por muito andou nas águas
Entregando o coração ao vento
Lavando com sal as mágoas
Rezando pelo tormento.

E ávido chega à terra
Que a primeira saia lhe encanta
Quando nos tempos de guerra
O grito inimigo era janta!

E confuso com a firmeza do solo
Enjoa de andar e correr
Preferindo ter ao colo
A primeira que lhe oferecer.

Mas tão cedo acostuma
Desse fraco amor ligeiro
Pega o chapéu e ruma
Amar pelo mundo inteiro.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Deus do Tempo

Texto de fim de ano com preocupações fantasiosas.
Contém imaginações de criança.

Se existisse um grande ser, um deus, encarregado de cuidar do tempo e da história - imagino-o muito, muito velho, barbudo e enrugado -, ao final de todo ano ele viraria uma página rabiscada de um grosso calendário - faria algo como carimbá-la, com um selo imponente dos deuses, ou vistaria com sua assinatura divina (para atestar aos outros deuses que não esteve matando trabalho) -, e alisaria a página do novo ano com sua mão calejada. E se, por acaso, o caderno estivesse no fim (cada caderno cobriria algo em torno de cem ou duzentos anos), ele fecharia este caderno e o jogaria, displicentemente, numa pilha montanhosa de outros cadernos, logo ao lado de sua mesa descomunal, e o livro atingiria certa parte da montanha e rolaria para baixo, já que não há mais tanto espaço lá em cima. O deus do tempo é assim, desorganizado e indolente, porque viveu idades inconcebíveis, Eras como segundos, e não teve outro fim senão entediar-se. Então algum outro deus, talvez o deus da manutenção, bateria na sua porta da madeira mais antiga e diria: "Preciso de 2012 finalizado e carimbado para o relatório." E o deus do tempo levantaria, cansado e sonolento, e escavaria a pilha de cadernos, vez ou outra pegando nas mãos livros tão antigos que neles não haveria números ou letras, apenas cores e pontos e traços. Então pousaria o caderno 1857-2012 ao lado da porta, marcharia até um canto da sala com pilhas e pilhas e pilhas de caixas, com centenas de cadernos em cada uma. O deus do tempo pegaria um caderno novo e branco da caixa mais próxima e olharia - um olhar distante - o corredor das caixas, tentando encontrar seu fim.