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terça-feira, 24 de abril de 2012

Conversa de Velho

Não me importa o que me falaram, filho, vou lhe contar o meu conselho dos meus oitenta anos.

A sua vida será uma mulher.
Nada de trabalho, carreira, nem de planos. Tudo isso vai embora no momento em que você se apaixona. Para ser sincero, você vai gazear o trabalho, vai repensar a carreira e simplesmente varrer seus planos quando ela falar que te ama. Vou lhe dizer, o poder dessa frase dita por uma voz feminina é venenoso. É uma informação amedrontadora, mas é verdade. Aí você está, achando que tem controle sobre tudo; e então os olhos dela se tornam o papel de parede dos seus olhos. Você sonhou em ser astronauta certa vez, mas serviria mesas num Café para o resto da vida, apenas para não estar longe, imagine, ir para a Lua enquanto ela fica na Terra!
Em certa época, as pessoas conseguirão fazer você sentir dúvida quanto o que irá fazer, ou como será viver... Palavras que conseguem destruir uma profissão. Mas ninguém será capaz de fazê-lo desistir de certa mulher. Nem a fome e a pobreza. Seus medos então serão coragens para não sucumbir ao único pavor: a perda.

Mas não quero que cometa erros, como igualar o amor e a paixão. O amor, filho, é mais duradouro, talvez seja perecível, mas demora a expirar. Alguns não acabam e vão para o barro molhado e degradam-se com a chuva. A paixão é um desejo intenso e irrefreável, como a raiva; e por isso causa tantos arrependimentos. Você não se joga na paixão, nunca. Você espera, e vive, até que ela vire amor, ou vire lembrança. A paixão é aguda, o amor é crônico.
Não digo isso para que não segure a vida em rédeas, mas como um aviso de pressa. Construa tudo que desejar enquanto pode, faça vontades, torne sonhos reais, conquiste. Até que apareça uma moça de saias esvoaçantes e bochechas coradas que transforme tudo numa grande bobagem, um preparativo para a verdadeira vida, a vida com ela.