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terça-feira, 13 de abril de 2021

Dulce et decorum est

Wilfred Owen (1893-1918) foi um poeta-soldado inglês que, frente aos horrores da Grande Guerra, vivenciados na carne, retratou, em meio às trincheiras e sarjetas, o resultado de um ataque de gás mostarda.

O poema descreve o caminho de volta de alguns soldados, logo após investirem contra as trincheiras inimigas, atravessando a Terra de Ninguém (espaço de terra, entre as duas trincheiras, onde ninguém dominava), e regressando ao merecido descanso, quando são surpreendidos por um ataque de bombas de gás.

Na última stanza, Owen muda a natureza descritiva do poema e se dirige a alguém (possivelmente a poetisa Jessie Pope, conhecida por seus poemas patrióticos de cunho recrutador; ou mesmo outro poeta-soldado, Rupert Brooke, que certa vez escreveu sobre as vantagens de lutar na guerra) para questionar a máxima latina 'dulce et decorum est pro patria mori'. A expressão vem de um poema de Horácio, e quer dizer 'é doce e adequado morrer pela pátria'. 

Wilfred Owen viria a morrer na sua última excursão à linha de frente, a apenas uma semana do armistício.

Esta é a minha tradução do poema.

Dulce et Decorum est, de Wilfred Owen

 

Curvados, como velhos pedintes sob sacas
e joelhos presos, tossindo feito bruxas, praguejamos pela lama.
Até que nos viramos, às assombrosas flamas
Avante, ao nosso repouso, e, distantes, bordejamos.
Homens marchavam adormecidos.
Muitos perderam seus coturnos;
mas manquejavam, casqueados  de sangue,
todos coxos, todos cegos, ébrios, soturnos;
surdos mesmo para os zunidos
de granadas de gás quedando atrás.

Gás! GÁS! Depressa, rapazes - um êxtase desastrado
vestindo os protetores de forma pontual,
mas alguém, ainda gritando e, desnorteado
debateu-se como um homem em chamas ou cal;
Pelas vidraças nebulosas e à verde luz, ofuscado
como sob um verde oceano, eu o vi, afogado.

Em todos os meus sonhos, ante minha visão desamparada
ele mergulha, gorgolejando, sufocando, afogando.

Se, nalgum sonho sufocante,você também marchasse
atrás de uma carroça onde o arremessamos
e contemplasse os olhos baços, contorcendo a face
como um demônio farto de pecados, o pendente semblante;
se você pudesse ouvir, a todo tranco, o sangue
subir gagarejando dos pulmões espumantes
Obscenos como o câncer, amargos, restantes
de vis e incuráveis feridas de línguas inocentes.
Companheiro, não diríeis com tanto entusiasmo
às crianças, ávidas por alguma desesperada glória
A Velha Mentira: Dulce et decorum est
Pro patria mori.

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